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Da imunidade ao humor: qual a influência do intestino na saúde?

Especialista destaca que órgão é considerado, desde os anos 1980, como uma espécie de segundo cérebro

Por Juliana Flor
Publicado em: 22.04.2019 às 03:00 Última atualização: 23.04.2019 às 14:43

Foto por: Fotolia
Descrição da foto: Intestino
Muito mais do que eliminar as fezes, o intestino humano tem o poder de influenciar na saúde. Quando funciona bem, nem damos muita atenção, agora, quando está "preso", lá vamos nós atrás de recursos como frutas, fibras e água ou, nos casos mais severos, dos laxantes. Mas você sabe do que realmente nosso trato intestinal é capaz? O proctologista Tiago Luís Dedavid e Silva revela alguns dos detalhes do órgão considerado, antes mesmo dos anos 1980, como uma espécie de segundo cérebro.

A analogia se deve, especialmente, pelo poder do intestino em "influenciar nosso estado de humor, comportamento e alguns atos reflexos. Participam deste sistema também o conjunto de micro-organismos comensais que habitam o trato gastrointestinal, chamados de microbiota. Esta complexa via bidirecional é denominada eixo cérebro-intestino-microbiota", explica o médico.

O intestino tem um próprio sistema nervoso, que é chamado de entérico (SNE). Ele apresenta alguns dos mesmos neurotransmissores, neuropeptídios e receptores presentes no cérebro e no sistema nervoso central (SNC). Um desses neurotransmissores é a serotonina (chamada de periférica), que não é capaz de chegar ao cérebro e produzir aquela conhecida sensação de bem-estar, mas tem funções importantes no trato gastrointestinal. "A serotonina é responsável pela modulação da motilidade intestinal; no pâncreas, pode tanto inibir a secreção de insulina quanto estimulá-la; no fígado, estimula a síntese e secreção de sais biliares, e atua diretamente sobre o metabolismo da glicose.

A substância também tem ação sobre o tecido adiposo e o metabolismo ósseo. Em algumas situações, níveis elevados de serotonina periférica podem estar associados à obesidade e à dificuldade no controle do diabete do tipo 2, mas estes mecanismos ainda não estão bem elucidados", diz. Há no intestino, ainda, entre 400 e 600 milhões de neurônios, capazes de "conferir autonomia ao aparelho digestivo para controlar a sua motilidade e a produção de secreções necessárias à digestão".

Intestino e emoções

Se quando estamos "trancados" ficamos mais irritados, o oposto também acontece. As nossas emoções são capazes de afetar a função intestinal. "Períodos de stress, físico ou emocional, estimulam a produção de um neurotransmissor chamado fator de liberação da corticotrofina (CRF). No sistema digestivo, este neurotransmissor irá retardar o esvaziamento gástrico, prolongar a motilidade do intestino delgado e aumentar a motilidade e a produção de secreções por parte do cólon. O stress emocional também inibe a ação do nervo vago, deixando nosso organismo mais sensível aos estímulos da adrenalina", conta o especialista.

Imunidade

Foto por: Divulgação
Descrição da foto: Tiago Luís Dedavid e Silva, proctologista
O intestino também tem papel importante na imunidade. Segundo Silva, diversas bactérias da microbiota intestinal podem se tornar patogênicas em determinadas situações. Para evitar o desenvolvimento de infecções, o órgão criou mecanismos de proteção como a "barreira de muco, que impede o contato direto entre bactérias e a mucosa intestinal, e a secreção de imunoglobulina do tipo A, que permite ao organismo reconhecer agentes nocivos antes que eles invadam a mucosa intestinal", finaliza.

Saiba mais

- Existe uma via bidirecional de comunicação entre o cérebro e intestinos.

- O cérebro é capaz influenciar a motilidade, sensibilidade, produção de secreções e imunidade intestinal.

- Uma pessoa saudável tem, em média, 100 bilhões de bactérias para cada grama de fezes.

- As bactérias podem ser de até 5 mil espécies diferentes.

?-Não são conhecidas exatamente todas as espécies de bactérias que habitam o intestino grosso. Na maioria, são bactérias do tipo anaeróbico.

- Apenas três grupos específicos de bactérias correspondem por até 70% dos micro-organismos encontrados nas fezes.

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